Os 3 conselhos de Hugo Rosa Ferreira, Board Member no Doutor Finanças

Nesta rubrica convidamos alguns dos mais reputados especialistas em investimentos financeiros a partilharem consigo três conselhos sobre poupança e investimentos. O convidado desta edição é Hugo Rosa Ferreira, Board Member no Doutor Finanças, CDO na Robot – Telecomunicações, Projetos e Serviços, Lda. e Special Advisor na PLMJ. Além de uma Licenciatura em Direito, o Hugo possui uma vasta experiência em advocacia, tendo sido advogado na VdA, Diretor Jurídico do Deutsche Bank em Portugal e advogado em prática individual. Entre 2012 e 2020, foi o sócio responsável pela área de Direito Financeiro na PLMJ. Não perca tempo, Simplesmente Invista!
Perfil LinkedIn: Hugo Rosa Ferreira | LinkedIn
Com uma fortuna avaliada em mais de 100 mil milhões de dólares, Warren Buffett é uma figura incontornável do universo dos investimentos. Correndo, conscientemente, o risco de cair no cliché de o citar, julgo que uma das mensagens centrais do que vos quero transmitir fica bastante clara se recorrer às palavras sábias do Oráculo de Omaha: “Don’t save what is left after spending; spend what is left after saving” (tradução livre: “Não poupes o que te sobra depois de gastares; gasta o que te sobra depois de poupares”).
Estando dado assim o mote, vamos lá então aos três conselhos que gostaria de te deixar aqui e que, espero, te ajudem a refletir sobre como poupar e investir bem.
Primeiro conselho: Senta-te e faz um orçamento
Literalmente. Escolhe um momento da semana em que estejas mais tranquilo e em que possas dedicar pelo menos uma hora a este exercício. Eu escolhi o Domingo à noite, que é um período em que procuro coisas para me entreter e assim fugir aos blues que tantas vezes me assolam quando me lembro que o fim-de-semana está a acabar, sem que eu tenha feito metade daquilo a que me propus.
Faz uma lista com todas as tuas – ou as vossas – fontes de receitas. Na maioria dos casos, esta lista incluirá salários e, eventualmente, rendas ou outros rendimentos passivos. Quando terminares, acrescenta uma linha com um item novo chamado “Poupança”. À frente de cada um dos itens desta lista, aponta o respetivo montante, sendo que no item Poupança aponta, para já, 200 euros.
De seguida, faz outra lista, esta com as despesas e respetivos montantes. Começa pelas recorrentes. Aqui cabem a renda da casa ou a prestação do crédito à habitação, a prestação do carro, as despesas com água, luz, gás, telecomunicações, as mensalidades de colégios, de ginásios, pensões de alimentos, custos com empregada doméstica e tudo o mais que for fixo e mensal.
Depois, acrescenta as despesas mais variáveis, como sejam as despesas com supermercado, com combustíveis e transportes, com alimentação fora de casa e com aqueles “vícios” que achas muito difícil deixares de ter. À frente de cada item aponta um valor médio mensal que seja o mais realista possível (eu sei que vais tentar “cortar” nos montantes ou mesmo nos vícios, mas é importante que sejas o mais honesto possível).
No fim de elaborares estas listas, faz as contas e surpreende-te. Com elevada probabilidade, estás a viver acima das tuas possibilidades, com recurso a várias soluções de sustentabilidade duvidosa.
E aqui entramos na fase crítica. Dedica o tempo que for necessário a refazer o teu orçamento. Sê criterioso na escolha das coisas que te propões cortar. Não vale a pena cortar em algo que sabes de antemão ser muito difícil conseguires fazê-lo. Mas faz um esforço e procura equilibrar o teu orçamento.
Daí em diante, a primeira coisa que deverás fazer quando recebes o teu salário ou outra fonte de rendimento é colocares os 200 euros de parte para os poderes investir e usares o remanescente para pagares as tuas despesas.
O objetivo deste exercício é conseguir que aquela poupança de 200 euros seja sustentável. Se o teu orçamento o permitir, aumenta aquele valor. Se for mesmo impossível, baixa para 100. Lembra-te apenas do seguinte: de acordo com um estudo publicado pelo Goldman Sachs, o retorno médio para períodos de 10 anos de investimento em ações nos últimos 140 anos foi de 9,2%. Isto significa que, em 10 anos, aqueles 200 euros por mês podem transformar-se em quase 40 mil euros e que em 20 anos, poderás ter um pé-de-meia de quase 140 mil euros. Nada mau para algo que te vai “custar” 200 euros por mês.
Segundo conselho: Levanta-te e investe
Certamente, já terás colocado a ti próprio a seguinte questão: qual é o melhor momento para investir? A resposta é muito simples: “agora” é sempre o melhor momento para investir.
Tomando como boa a premissa de que, no longo prazo, um investimento em instrumentos financeiros terá sempre retorno positivo – premissa essa sustentada em dados históricos, os quais, apesar de não garantirem resultados futuros, permitem-nos ter um bom grau de confiança de que a mesma é correta – é uma decorrência lógica que o momento para investir é sempre o momento em que dispões de capital para o efeito. Caso contrário, estarás sempre a adiar o momento em que poderás beneficiar do respetivo retorno.
Nota bem a diferença entre apenas “poupar” e “poupar e investir”: Aqueles mesmos 200 euros por mês, se apenas forem deixados a “descansar” numa conta à ordem, serão, no máximo (não contabilizando despesas de manutenção) 24 mil euros em 10 anos e 48 mil euros em 20 anos (menos, se descontarmos a inflação). Agora compara estes valores com os retornos que poderás conseguir a 10 e 20 anos. Estamos a falar de uma diferença potencial de cerca de 15 mil euros em 10 anos e de mais de 90 mil euros em 20 anos. Investir pode mesmo fazer muita diferença.
Mas atenção: lembra-te que o meu conselho é “levanta-te e investe”. Levantares-te para investir não é apenas pegar no dinheiro e escolher um investimento, como quem escolhe os números do euromilhões. Isso poderias fazê-lo sem te levantares, mas não é um caminho adequado. O meu conselho é que procures sempre aconselhamento para o teu investimento. E há duas formas de o obteres:
Uma, mais difícil, mais barata, mas mais arriscada, que se traduz em leres bons livros sobre investimento (googla e encontrarás), analisares a oferta de fundos de investimento, de ETFs e de PPRs disponível no mercado e depois construíres o teu portefólio diversificado de investimento (por esta ordem).
A outra, mais cara, mas mais fácil e menos arriscada, traduz-se em procurares aconselhamento profissional. Felizmente, estamos em 2021 e este aconselhamento não é exclusivo para quem já tem muito dinheiro. Há muitas soluções no mercado que poderão ajudar-te (a Dolat Capital é uma delas, os bancos especializados em investimentos são outras). No limite, poderás sempre perguntar ao teu gestor de conta que fundos de investimento, ETFs e PPRs é que o teu banco distribui e se ele ou alguém no banco te pode aconselhar a construir uma carteira de investimento.
No fim do dia, o mais importante é que procures informação, faças perguntas e analises as respostas que te forem dadas, antes de tomares uma decisão de investimento. Mas lembra-te deste conselho e investe.
Terceiro conselho: Volta a sentar-te e espera…
Em 1972, o psicólogo Walter Mischel realizou um estudo em crianças sobre os efeitos da recompensa diferida (delayed gratification) no qual fez duas importantes observações: a primeira, que uma parte significativa das crianças que foram capazes de esperar por uma recompensa maior do que aquela que poderiam ter no imediato tiveram melhores resultados académicos, entre outros resultados positivos; a segunda, que as crianças cuja recompensa não lhes era visível eram capazes de esperar mais tempo por essa mesma recompensa.
Bem sei que vivemos num período em que podemos ver toda uma temporada da nossa série preferida numa noite e em que muitas das nossas dúvidas existenciais podem ser tiradas em segundos com uma pesquisa no telemóvel.
Mas é precisamente por vivermos num período em que as recompensas imediatas se tornaram muito fáceis de obter que é extremamente importante perceber, aceitar e praticar o conceito de recompensa diferida, não só em matéria de investimentos, mas em muitos outros planos das nossas vidas.
Em praticamente todos os períodos de 10 anos que escolhermos para medir o retorno do investimento em ações iremos encontrar períodos mais pequenos em que o retorno foi reduzido, nulo ou negativo. Mas os dados de que dispomos demonstram que, quanto maior for o período de investimento, maior a probabilidade de o retorno ser positivo e uma simples regra da matemática acrescenta que maior será também esse retorno em termos absolutos (cortesia de um outro conceito, o de retorno composto).
“Volta a sentar-te e espera” significa então, em primeiro lugar, que deves sempre pensar no longo prazo quando investes. Prepara-te psicologicamente para esperar vários anos pelo retorno do teu investimento e lembra-te que, se realizares mais-valias intercalares, deverás reinvestir não apenas o capital inicial, mas também essas mais-valias (para poderes beneficiar do tal conceito de retorno composto).
Isto reforça também a importância do meu primeiro conselho, na medida em que só com um orçamento bem pensado é que poderás investir no longo prazo de modo sustentado, sem correres um risco elevado de teres de utilizar o capital que conseguiste pôr de parte ou de usares eventuais mais-valias para satisfazeres necessidades básicas ou algum imprevisto.
Em segundo lugar, tenta não pensar muito no que investiste. Isto pode parecer estranho, mas é igualmente importante, para mitigar o risco de procurares uma recompensa mais imediata. Para este efeito, torna os investimentos regulares tão automáticos quanto possível e evita acederes à tua carteira de investimentos com regularidade. Verás que, assim, será mais provável teres uma boa surpresa sempre que o fizeres.
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